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Copom corta Selic em 0,75 ponto, para 2,25% ao ano

Autor: Gustavo Ferreira, Valor Investe - São Paulo
18/06/2020

Foi o oitavo corte consecutivo na rota iniciada em agosto passado, quando a meta para os juros básicos começou a descer do seu então piso histórico, de 6,5% ao ano.

Chegou o esperado corte de 0,75 ponto na meta dos juros básicos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do Brasil levou a Selic ao novo piso histórico de 2,25% ao ano nesta quarta-feira (17/06/2020).

É a taxa de referência mais baixa desde 1999, quando o nível de preços no Brasil passou a ser controlado pelo regime de metas de inflação. Foi o oitavo corte consecutivo na rota iniciada em agosto passado, quando a Selic começou a descer do seu então piso histórico, de 6,5% ao ano.

A decisão seguiu o roteiro já desenhado há 42 dias atrás. Em seu último comunicado, quando deu uma tesourada de mesma magnitude na Selic, a autoridade monetária apontava para possível repeteco. E, nas últimas semanas, fazia acessos na imprensa para a confirmação desse caminho.

Os diretores do BC, que tomaram a decisão por unanimidade, alertam para o risco de aumento excessivo de gastos e a possível descontinuidade do processo de reformas, iniciado no ano passado com a da Previdência. No documento, esse é apresentado como um possível obstáculo para a manutenção da Selic nos níveis atuais.

Pavimentou a nova referência nacional de juros para os mercados de crédito e investimentos, que passa a valer nesta quinta-feira (18), a inflação bem abaixo da meta estipulada para 2020.

A meta do Banco Central neste ano é entregar uma variação média dos preços medida pela IPCA de 4% em 12 meses, com intervalo de tolerância de entre 2,5% e 5,5%. A última medição feita IBGE aponta inflação abaixo do piso em maio, de 1,88% ao ano.

O pano de fundo principal para o que já foi dragão décadas atrás agora ser apenas uma lagartixa é a pandemia de covid-19. O Brasil ruma para 1 milhão de infectados, e a doença mata milhares diariamente. E, enquanto isso, a economia do Brasil, que patina para engrenar desde o fim da recessão de 2017, tem neste ano para enfrentar a maior contração mundial em quase um século.

De certa forma, o BC fez eco ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Como a autoridade monetária dos Estados Unidos também vem reforçando, a do Brasil afirma que "a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano".

Com a renda das famílias brasileiras sendo achatada (ou desaparecendo) enquanto duram as necessárias medidas de isolamento, o consumo tem minguado ainda mais. A lei de oferta e procura entrou em ação, preços vem sendo levados a cair ou subir menos; e o Banco Central, a baixar juros outra vez.

Outro efeito esperado é que que as ações na B3 ganhem mais fôlego. Com juros ainda mais baixos na renda fixa, quando não estão negativos, não resta alternativa a não ser topar os riscos das bolsas, caso ainda se sonhe com rendimentos fartos.

Por outro lado, com rendimentos fixos baixos por aqui, mais dólares tendem a ir embora ou deixar de embarcar no Brasil, cujos juros são de primeiro mundo, mas a economia real é emergente.